quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Produtos a base de cannabis são eficazes para reduzir sintomas de mal de Parkinson: em estudo na Alemanha, 54% dos indivíduos pesquisados relataram melhoras em problemas que variaram da dor física à depressão.

Pacientes que sofrem de mal de Parkinson relataram benefícios clínicos obtidos a partir do uso da cannabis medicinal. É o que diz um estudo feito na Alemanha e publicado na revista Journal of Parkinson ‘s Disease. Segundos os dados do estudo, cerca de 8% dos pacientes com Parkinson avaliados relataram o uso de produtos com cannabis. Dentre estes usuários, 54% relataram ter sentido benefícios clínicos.
Na Alemanha, os produtos medicinais contendo tetrahidrocanabinol (THC), o principal composto psicoativo da cannabis, podem ser prescritos para pacientes que não obtiveram benefícios de outras formas de terapia, ou não puderam se submeter a elas. Espera-se que a cannabis possa proporcionar algum alívio em sintomas que se mostram incapacitantes. Já o Canabidiol (CDB), outras substância presente na cannabis, está disponível para ser comprado nas farmácias e pela internet sem necessidade de receita. 
O estudo foi liderado por Carsten Buhmann, da Universidade do Centro Médico Hamburg-Eppendorf, na cidade de Hamburgo, na Alemanha. Ele explica que o uso medicinal da cannabis medicinal foi aprovado legalmente no país em 2017, para pacientes que tenham sido severamente atingidos por alguma doença porém cujos sintomas tenham se mostrado resistentes à terapia, entre outros critérios. Alguns pacientes com mal de Parkinson preenchem os requisitos estabelecidos para se enquadrarem no grupo. “Mas existem poucos dados sobre qual tipo de canabinoide usar, qual a via de administração é melhor para cada paciente com Parkinson, e quais os sintomas que podem se beneficiar. Também não temos informações sobre o quanto a comunidade de pacientes com Parkinson está informada sobre o uso da cannabis medicinal, se eles já tentaram usar a cannabis e, se usaram, com qual resultado”, diz.
Os estudiosos quiseram avaliar as percepções dos pacientes sobre o uso medicinal da cannabis, além de avaliar as experiências de pacientes que já consumiram esses produtos. Para isso, empreenderam uma pesquisa transversal de âmbito nacional, entre membros da Associação de Parkinson Alemã. Trata-se do maior agrupamento de pacientes de Parkinson em países de língua alemã, com aproximadamente 21 mil membros. Questionários foram enviados em abril de 2019 aos membros da associação através da revista da organização, e também foram distribuídos nas clínicas dos pesquisadores. 
Cerca de 1.300 questionários foram analisados. Os resultados mostraram que o interesse da comunidade com Parkinson pela cannabis medicinal era alto, mas o conhecimento sobre diferentes tipos de produtos era limitado. Entre os que responderam ao questionário, 51% estavam cientes da legalidade da cannabis medicinal, e 28% estavam cientes das diversas vias de administração (a inalação e a administração oral), mas somente 9% estavam cientes da diferença entre THC e CBD. 
Mais de 8% dos pacientes já utilizavam canabinoides e mais da metade desses usuários (54%) relataram efeitos benéficos. Mais de 40% dos usuários relataram que as substâncias ajudavam a administrar a dor e as câimbras musculares, e mais de 20% dos usuários relataram redução de problemas como rigidez (acinesia), frio, tremores, depressão, ansiedade e síndrome das pernas inquietas. Os pacientes relataram que produtos de cannabis que eram inalados e que continham THC eram mais eficientes no tratamento de rigidez do que produtos orais que contêm CBD, mas foram um pouco menos bem tolerados. 
Os pacientes que utilizam cannabis tendem a ser mais jovens, viver em cidades maiores e ter mais conhecimentos dos aspectos legais e clínicos da cannabis medicinal. E 65% dos não-usuários estavam interessados no uso da cannabis medicinal, mas a falta de conhecimento e o medo dos efeitos colaterais foram relatados como as principais razões para não tentar. 
“Nossos dados confirmam que pacientes com Parkinson possuem um grande interesse no tratamento com cannabis medicinal, mas falta conhecimento sobre como consumir e, especialmente, as diferenças entre THC e CBD”, nota Buhmann. “Os médicos devem considerar esses aspectos quando aconselham seus pacientes sobre o tratamento com cannabis medicinal. Os dados relatados aqui podem ajudar os médicos a decidir quais pacientes poderiam se beneficiar, quais sintomas podem ser endereçados, e qual tipo de canabinoide e rota de administração pode ser adequada”. 
“O consumo da cannabis pode estar relacionado a um efeito placebo devido a alta expectativa dos pacientes e o condicionamento, mas mesmo dessa maneira pode ser considerado como um efeito terapêutico. Deve ser enfatizado, entretanto, que nossas descobertas são baseadas em relatos de pacientes subjetivos, e que estudos clínicos apropriados urgentes são necessários ”, concluiu. 


                                              Rick Proctor/Unsplash

Publicado em 29/01/2021

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