sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Britânicos começam maior estudo da história sobre efeitos da aspirina no câncer

O serviço público de saúde da Grã-Bretanha vai iniciar o maior estudo já feito para analisar se a aspirina pode prevenir o retorno do câncer em pacientes que já tiveram a doença.
Cerca de 11 mil pessoas que tiveram câncer de intestino, mama, próstata, estômago e esôfago participarão do estudo.
O estudo é financiado pelo NIHR, o setor de pesquisas do serviço público de saúde britânico, e a instituição de caridade Cancer Research UK, voltada para apoio a pacientes e pesquisas sobre o câncer.
Na pesquisa, os participantes deverão tomar um comprimido por dia durante cinco anos.
Depois, os pesquisadores vão comparar grupos de pacientes tomando doses diferentes de aspirina com as pessoas que consumirão apenas um placebo, e checar se ocorre reincidência da doença.
Ao longo de 12 anos, o estudo será realizado em cem centros de saúde espalhados pela Grã-Bretanha e deve envolver pacientes que estão ou estiveram em tratamento para câncer em estágio inicial.
"Esta pesquisa é particularmente animadora porque cânceres reincidentes são, com frequência, difíceis de tratar. Então encontrar uma forma barata e eficaz para evitar isso pode ser decisivo para os pacientes", disse Fiona Reddington, médica da Cancer Research UK.
Cientistas alertam que a aspirina não é adequada para todos os pacientes e não deve ser usada sem receita médica.
Tomar o medicamento todos os dias pode provocar efeitos colaterais, como úlceras e sangramento no estômago e até no cérebro.
No entanto, algumas pessoas com problemas cardíacos já tomam doses baixas e diárias de aspirina como parte de seu tratamento.
Tem ocorrido, nos últimos anos, um grande debate a respeito das possíveis propriedades da aspirina no combate ao câncer.
"Há algumas pesquisas interessantes que sugerem que a aspirina pode retardar ou evitar o retorno do câncer em estágio inicial, mas ainda não houve um teste aleatório para fornecer a prova clara. Este teste visa responder esta questão de uma vez por todas", disse Ruth Langley, líder da pesquisa.
"Se descobrirmos que a aspirina impede o retorno desses cânceres, é algo que poderá mudar o tratamento no futuro - fornecendo uma opção barata e simples para ajudar a impedir a reincidência do câncer e ajudando mais pessoas a sobreviver."
Alex King, uma britânica de 51 anos, foi diagnosticada com câncer de mama em dezembro de 2009 e recebeu os resultados dos exames confirmando que ela está, agora, livre da doença.
"Ter câncer foi uma das experiências mais difíceis de minha vida. Qualquer oportunidade de reduzir a chance de o câncer voltar é incrivelmente importante para que os pacientes fiquem mais tranquilos", disse.
 
 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Pesquisador da USP estuda uso de plástico de painéis solares na retina

Uma parceria entre a Universidade de São Paulo de São Carlos e o Politecnico di Milano está proporcionando descobertas que, no futuro, poderão beneficiar pacientes com doenças degenerativas na retina. Os pesquisadores descobriram que o polímero politiofeno, usado em placas solares, funciona também na água e em olhos de animais.
Segundo Paulo Barbeitas Miranda, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP), os italianos estudam o material há anos e, em 2013, um aluno de doutorado de lá veio para o Brasil para realizar experimentos específicos. Começava a parceria.
“Esses materiais vêm sendo usados há muitos anos para células solares, eles absorvem muita luz e produzem cargas elétricas. Eles tiveram a ideia de ver se essa separação de carga ocorreria na água e viram que é possível deixar esse material imerso e disparar o funcionamento do neurônio”, contou.
Miranda afirmou que estudos sobre a aplicação de polímeros na retina, onde o estímulo luminoso é transformado em estímulo nervoso, são novidade e que, a princípio, os pesquisadores analisaram a absorção da luz e a comunicação com os neurônios, “os cabos elétricos do nosso corpo”.
Eles dispuseram o politiofeno em um suporte biocompatível e realizaram testes em ratos e porcos. “Há uma cegueira induzida, eles implantam e avaliam se há a sensibilidade à luz, e os estudos preliminares mostram que sim”, contou.
Outra vantagem do material, explicou o professor, é a maleabilidade. “O fato de ser flexível é importante. O olho é redondo, o material tem que se moldar, não seria possível com placas de silício, por exemplo”, disse, reforçando que ainda há um caminho a ser percorrido.
“Tem uma tecnologia a ser desenvolvida para ser mais durável e mais seguro. Ele precisa ser testado exaustivamente em animais e, uma vez comprovado, há os testes em voluntários com autorização das agências avaliadoras”, pontuou. “São passos caros e demorados, mas a potencialidade é grande”.
A intenção, ao final, é chegar a um filme fino, capaz de ser depositado na retina em casos de degeneração de fotorreceptores. “Vai substituir a parte que absorve a luz, não a parte neurológica”, adiantou.
“Do ponto de vista científico, há desafios: estudar o processo de comunicação elétrica entre o polímero e os neurônios, aprender a conectar melhor os dois, desenhar outros polímeros, projetar outros materiais”.
 
Paulo Barbeitas Miranda, professor do Instituto
de Física de São Carlos
 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

'Engenharia genética pode fazer porcos doarem órgãos para humanos'

Um método de modificação de genes pode um dia tornar órgãos de porcos adequados para uso em pessoas, de acordo com cientistas.
George Church e seus colegas usaram uma técnica chamada Crispr para alterar o DNA de células de porco e torná-las compatíveis com humanos.
O trabalho preliminar, publicado na revista científica Science, trata de preocupações sobre possibilidade de rejeição e infecção por vírus presentes no DNA do porco.
Se esse problemas forem resolvidos, a técnica pode ser a resposta para os baixos índices de doação de órgãos.
Mas serão necessários mais anos de pesquisa para que porcos geneticamente modificados possam ser criados para abrigar órgãos que serão usados em pessoas.
O Crispr é uma ferramenta científica relativamente nova que permite que cientistas rearranjem códigos de DNA.
Church, da Universidade Harvard, usou a técnica para desativar retrovírus endógeno que reside no DNA do porco.
Este retrovírus suíno é perigoso porque pode infectar células humanas - pelo menos no laboratório.
Em testes com jovens embriões de porcos, Church conseguiu eliminar todas as 62 cópias dos retrovírus das células de porco usando a técnica Crispr.
Em seguida, ele checou se as células modificadas ainda transmitiriam com facilidade o retrovírus para as células humanas. Isso não ocorreu, embora ainda tenha havido uma pequena taxa de transmissão.
Church afirma que a descoberta traz grandes esperanças para o uso de órgãos de animais em humanos - o que os médicos chamam de xenotransplante.
Sarah Chan, especialista da Universidade de Edinburgo, disse: "Mesmo depois que as questões científicas e de segurança forem resolvidas, ainda deveríamos considerar possíveis preocupações culturais e impactos sociais associados a um uso disseminado de órgãos de porcos para transplante humano".
"Apesar disso, o resultado do estudo é valioso tanto como prova deste princípio como um possível passo para avanços terapêuticos nesta área, que ainda precisa de bastante pesquisa."
 
 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O mistério da geleira que cresceu enquanto todas as outras encolhiam

Em tempos de aquecimento global, a geleira de Belvedere, que lambe as portas do vilarejo de Macugnaga, no norte da Itália, é um caso raro: durante quatro anos, ela se expandiu, enquanto seus vizinhos encolheram.
Embora tenha ocorrido há mais de dez anos, entre 2001 e 2004, o fenômeno modificou a paisagem da região e ainda intriga pesquisadores.
"De alguma maneira a água entrou na geleira através de fendas e, por causa de uma espécie de efeito lubrificante, se espalhou, levando à expansão", afirma o glaciologista Gianni Mortara, do Conselho Nacional de Pesquisa italiano.
Um dos mistérios é que, mesmo após parar de crescer, a geleira segue um ritmo de descongelamento bem mais lento que o registrado na região – nos Alpes suíços, por exemplo, o intenso degelo tem revelado restos mortais de alpinistas desaparecidos há décadas.
A Belvedere é uma das formações analisadas pelo programa europeu Glaciorisk, que avalia os riscos das principais geleiras dos Alpes. Cientistas instalaram estações meteorológicas, câmeras e aparelhos para capturar e estudar seus movimentos.
A geleira está localizada aos pés do Monte Rosa, a montanha mais alta da Itália e a segunda dos Alpes, com 4.634 metros de altura.
Seu súbito crescimento, iniciado em 2001, assustou a pequena Macugnaga. O gelo avançava a uma média de cem metros por ano rumo ao vilarejo, contra os 40 metros históricos, superando as encostas laterais.
No topo do glaciar, a aceleração era ainda maior – chegava a 200 metros anuais –, por causa da inclinação.
Quando o fenômeno chegou ao fim, em 2004, deixou entre suas heranças um lago de 150 km² e 57 metros de profundidade.
Com seus quase 3 milhões de metros cúbicos de água, ameaçava transbordar e inundar a região, levando pesquisadores e engenheiros a escavar saídas artificiais para esvaziar essa espécie de represa natural.
Durante o processo, os cientistas lançaram produtos químicos não poluentes na água para ver onde ela iria parar. Em quatro dias, essas substâncias foram identificadas nos riachos Fontanone e Anza. Em menos de dois anos, parte do volume foi transferido aos dois córregos.
Hoje, há apenas um chão de pedras no local onde o lago se formou. Ou, nos dias de chuva, uma grande poça de lama.
 
 
 
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