sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Como podemos saber se um paciente em coma está consciente? O neurologista Steven Laureys procura por sinais de consciência em pacientes que não respondem a estímulos

Médicos de toda a Europa enviam seus pacientes aparentemente inconscientes para Laureys, um clínico e pesquisador da Universidade de Lige, para que sejam realizados exames mais abrangentes. A fim de fornecer o cuidado adequado aos enfermos, é necessário que médicos e familiares saibam se os pacientes têm algum grau de consciência. Ao mesmo tempo, Laureys, a partir dos doentes, aumenta seu entendimento sobre o assunto. 
É suficientemente difícil definir a palavra “vida”, e é ainda mais complicado definir a vida “consciente”. Não há uma definição única. Mas é claro que, na prática clínica, precisamos de critérios não ambíguos. Nesse cenário, todos precisam saber o que queremos dizer com um paciente “inconsciente”. A consciência não é “tudo ou nada”. Podemos estar mais ou menos despertos, mais ou menos conscientes. A consciência é frequentemente subestimada; muito mais do que pensamos acontece no cérebro de recém-nascidos, animais e pacientes em coma.
Há várias maneiras de fazer isso, e a tecnologia que temos à nossa disposição é crucial nesse sentido. Por exemplo, sem as técnicas de neuroimagem, teríamos muito menos conhecimentos na área. Estudamos os cérebros danificados de pessoas que perderam, pelo menos parcialmente, a consciência. Examinamos o que acontece durante o sono profundo, quando as pessoas perdem temporariamente a consciência. Também estamos trabalhando com monges budistas porque sabemos que a meditação pode provocar alterações no cérebro; conexões importantes na cadeia que forma a consciência apresentam mudanças em sua atividade. A hipnose e a anestesia também podem nos ensinar muito sobre a consciência. Em Lige, os cirurgiões operam rotineiramente pacientes sob hipnose (incluindo a rainha Fabiola, da Bélgica). Assim como ocorre com a anestesia, as conexões entre certas áreas do cérebro são menos ativas sob hipnose. E, finalmente, estamos curiosos para entender o que as experiências de quase morte podem nos dizer sobre a consciência. O que significa algumas pessoas sentirem que estão deixando seus corpos, enquanto outras se sentem subitamente entusiasmadas?
Duas redes diferentes parecem desempenhar esse papel: a rede externa, ou sensorial, e a rede interna de autoconsciência. A primeira é importante para a percepção de todos os estímulos sensoriais. Para ouvir, precisamos não apenas das orelhas e do córtex auditivo, mas também dessa rede externa, que provavelmente existe em ambos os hemisférios do cérebro – na camada mais externa do córtex pré-frontal e mais atrás, nos lóbulos parietal-temporais. Nossa rede de consciência interna, por outro lado, tem a ver com nossa imaginação – isto é, nossa voz interna. Essa rede está localizada no interior do córtex cingulado e no pré-cuneo. Para que tenhamos consciência de nossos pensamentos, essa rede deve trocar informações com o tálamo.
O que acontece com uma pessoa em coma?
Seu cérebro está tão danificado que nenhuma dessas redes funciona corretamente. Este mau funcionamento pode ocorrer como resultado de ferimentos graves, hemorragia cerebral, parada cardíaca ou ataque cardíaco. Um coma dura alguns dias ou semanas no máximo. Assim que os pacientes abrem os olhos, é dito que “despertam” do coma. Isso não significa, no entanto, que a pessoa esteja consciente. A maioria dos pacientes que sai do coma logo se recupera. Mas uma minoria vai sucumbir à morte cerebral; um cérebro morto está destruído e não pode se recuperar. Mas mesmo assim, alguns pacientes sem morte cerebral nunca se recuperam do coma também.
Como sabemos se um paciente que despertou do coma está consciente?
Para isso usamos a escala de coma de Glasgow. O médico diz: “Aperte minha mão”. Ou observamos se o paciente responde a sons ou toques. Se os pacientes não respondem, a condição costuma ser chamada de “vegetativa”; eles parecem estar inconscientes. Se o paciente responde, mas não consegue se comunicar, categorizamos a consciência como “mínima”. Tais pacientes podem, por exemplo, seguir uma pessoa com os olhos ou responder a perguntas simples. Se beliscarmos a mão deles, eles a afastarão. Mas esses sinais de consciência nem sempre são evidentes ou vistos em todos os pacientes. Um paciente que acorda de um coma também pode desenvolver a chamada Síndrome do encarceramento, ela está completamente consciente mas paralisada e incapaz de se comunicar, exceto através do piscar de olhos.
Se não houver resposta aos comandos, sons ou estímulos de dor, isso não significa necessariamente que o paciente está inconsciente. Pode ser que o paciente não queira responder ao comando ou que as regiões do seu cérebro que processam a linguagem estejam tão danificadas que a pessoa simplesmente não compreenda. Posteriormente, há casos em que o cérebro diz “mova-se!”, mas as vias neurais motoras foram cortadas. Os familiares do paciente são frequentemente mais rápidos do que os médicos para reconhecer se ele exibe consciência. Eles podem perceber mudanças sutis na expressão facial ou perceber movimentos leves que escapam à atenção do médico.
Pacientes de toda a Europa são trazidos para realizar testes na Universidade de Lige. Como você determina se eles estão conscientes?
Bem, é claro, o médico dirá: “Aperte minha mão” – mas desta vez enquanto o paciente está realizando exames de neuroimagem. Se o córtex motor é ativado, sabemos que o paciente ouviu e entendeu e, portanto, está consciente. Também queremos determinar as chances de recuperação e que medidas o médico ou a família do paciente podem tomar. Com os diferentes exames de neuroimagem, posso descobrir onde o dano cerebral está localizado e quais conexões ainda estão intactas. Esta informação diz aos membros da família as chances de recuperação. Se os resultados mostrarem que não há esperança alguma de melhora, serão discutidos tópicos difíceis com a família, como opções de eutanásia. Eventualmente nos deparamos com muito mais atividade cerebral do que o previsto, e então podemos iniciar um tratamento voltado para a reabilitação.

Anouk Bercht


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Dia da Internet Segura

Hoje é o dia da Internet segura ou Safer Internet Day! 

De acordo com a SaferNet, esse dia foi criado pela Rede Insafe na Europa e reúne atualmente mais de 140 países para mobilizar usuários e instituições em torno da data e estimular um uso livre e seguro da Internet.

🔐Mas vocês sabem como usar a Internet de forma segura?

Confira algumas dicas no post que montamos para vocês!

Fontes:



 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Produtos a base de cannabis são eficazes para reduzir sintomas de mal de Parkinson: em estudo na Alemanha, 54% dos indivíduos pesquisados relataram melhoras em problemas que variaram da dor física à depressão.

Pacientes que sofrem de mal de Parkinson relataram benefícios clínicos obtidos a partir do uso da cannabis medicinal. É o que diz um estudo feito na Alemanha e publicado na revista Journal of Parkinson ‘s Disease. Segundos os dados do estudo, cerca de 8% dos pacientes com Parkinson avaliados relataram o uso de produtos com cannabis. Dentre estes usuários, 54% relataram ter sentido benefícios clínicos.
Na Alemanha, os produtos medicinais contendo tetrahidrocanabinol (THC), o principal composto psicoativo da cannabis, podem ser prescritos para pacientes que não obtiveram benefícios de outras formas de terapia, ou não puderam se submeter a elas. Espera-se que a cannabis possa proporcionar algum alívio em sintomas que se mostram incapacitantes. Já o Canabidiol (CDB), outras substância presente na cannabis, está disponível para ser comprado nas farmácias e pela internet sem necessidade de receita. 
O estudo foi liderado por Carsten Buhmann, da Universidade do Centro Médico Hamburg-Eppendorf, na cidade de Hamburgo, na Alemanha. Ele explica que o uso medicinal da cannabis medicinal foi aprovado legalmente no país em 2017, para pacientes que tenham sido severamente atingidos por alguma doença porém cujos sintomas tenham se mostrado resistentes à terapia, entre outros critérios. Alguns pacientes com mal de Parkinson preenchem os requisitos estabelecidos para se enquadrarem no grupo. “Mas existem poucos dados sobre qual tipo de canabinoide usar, qual a via de administração é melhor para cada paciente com Parkinson, e quais os sintomas que podem se beneficiar. Também não temos informações sobre o quanto a comunidade de pacientes com Parkinson está informada sobre o uso da cannabis medicinal, se eles já tentaram usar a cannabis e, se usaram, com qual resultado”, diz.
Os estudiosos quiseram avaliar as percepções dos pacientes sobre o uso medicinal da cannabis, além de avaliar as experiências de pacientes que já consumiram esses produtos. Para isso, empreenderam uma pesquisa transversal de âmbito nacional, entre membros da Associação de Parkinson Alemã. Trata-se do maior agrupamento de pacientes de Parkinson em países de língua alemã, com aproximadamente 21 mil membros. Questionários foram enviados em abril de 2019 aos membros da associação através da revista da organização, e também foram distribuídos nas clínicas dos pesquisadores. 
Cerca de 1.300 questionários foram analisados. Os resultados mostraram que o interesse da comunidade com Parkinson pela cannabis medicinal era alto, mas o conhecimento sobre diferentes tipos de produtos era limitado. Entre os que responderam ao questionário, 51% estavam cientes da legalidade da cannabis medicinal, e 28% estavam cientes das diversas vias de administração (a inalação e a administração oral), mas somente 9% estavam cientes da diferença entre THC e CBD. 
Mais de 8% dos pacientes já utilizavam canabinoides e mais da metade desses usuários (54%) relataram efeitos benéficos. Mais de 40% dos usuários relataram que as substâncias ajudavam a administrar a dor e as câimbras musculares, e mais de 20% dos usuários relataram redução de problemas como rigidez (acinesia), frio, tremores, depressão, ansiedade e síndrome das pernas inquietas. Os pacientes relataram que produtos de cannabis que eram inalados e que continham THC eram mais eficientes no tratamento de rigidez do que produtos orais que contêm CBD, mas foram um pouco menos bem tolerados. 
Os pacientes que utilizam cannabis tendem a ser mais jovens, viver em cidades maiores e ter mais conhecimentos dos aspectos legais e clínicos da cannabis medicinal. E 65% dos não-usuários estavam interessados no uso da cannabis medicinal, mas a falta de conhecimento e o medo dos efeitos colaterais foram relatados como as principais razões para não tentar. 
“Nossos dados confirmam que pacientes com Parkinson possuem um grande interesse no tratamento com cannabis medicinal, mas falta conhecimento sobre como consumir e, especialmente, as diferenças entre THC e CBD”, nota Buhmann. “Os médicos devem considerar esses aspectos quando aconselham seus pacientes sobre o tratamento com cannabis medicinal. Os dados relatados aqui podem ajudar os médicos a decidir quais pacientes poderiam se beneficiar, quais sintomas podem ser endereçados, e qual tipo de canabinoide e rota de administração pode ser adequada”. 
“O consumo da cannabis pode estar relacionado a um efeito placebo devido a alta expectativa dos pacientes e o condicionamento, mas mesmo dessa maneira pode ser considerado como um efeito terapêutico. Deve ser enfatizado, entretanto, que nossas descobertas são baseadas em relatos de pacientes subjetivos, e que estudos clínicos apropriados urgentes são necessários ”, concluiu. 


                                              Rick Proctor/Unsplash

Publicado em 29/01/2021
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