quarta-feira, 13 de maio de 2020

Pressa na busca de teste rápido para COVID-19 esbarra na imprecisão: novos testes são esperança para diminuir restrições de contato, mas críticos dizem que suas taxas de erros ainda são um problema.


Um novo teste para detectar o coronavírus que seja barato, acessível a milhões e que possa ser usado em farmácias, postos de trabalho ou mesmo em casa, pode ser um elemento vital para permitir o retorno às atividades profissionais e aos bancos escolares. Na semana passa passa, Deborah Birx, a coordenadora de resposta ao coronavírus da Casa Branca, chamou os testes rápidos de antígenos de “inovação revolucionária” necessária para que se possam realizar centenas de milhares de testagens por dia. O comentário evocava suas declarações anteriores de que testes para detectar antígenos poderiam ser utilizados para examinar grandes faixas da população.
A técnica geralmente envolve uma tecnologia — chamada de testes de fluxo lateral — semelhante àquela empregada em testes caseiros de gravidez. No teste, um anticorpo pode se ligar a uma proteína de coroa (os antígenos) que cobrem a superfície do vírus como espinhos em um baiacu. Os testes são baratos para se produzir e simples de se utilizar, e entregam os resultados em minutos. 
O objeto também é desenvolver um teste que seja tão preciso quanto o padrão atual, que use reações em cadeia de polimerases (PCR) para processar o material genético do vírus e amplificá-lo para detecção. Mas obstáculos técnicos maiores ainda permanecem. “O que se busca, em termos de inovação, é que o teste [de antígeno] é mais sensível ou menos provável a registrar falsos negativos e mais fácil de se usar do que um teste de PCR. E isso não é fácil de fazer”, diz Bettina Fries, chefe da divisão de doenças infecciosas em Stony Brook Medicine. “Normalmente, testes de PCR são mais sensíveis.” 
A necessidade urgente de conduzir testes em larguíssima escala significa que qualquer tecnologia factível está sendo considerada. A OraSure Technologies, uma companhia de aparelhos médicos em Belém, Palestina, recebeu um contrato federal de 710,310 U$ no mês passado para desenvolver um teste caseiro que pode potencialmente detectar o coronavírus na saliva em menos de 20 minutos. Stephen Tang, o CEO da empresa, diz que tais testes de antígenos são necessários para avaliar milhões de pessoas por dia. “Não se pode depender da capacidade de trabalho dos laboratórios e da disponibilidade de profissionais médicos e de laboratório”, como exigem os testes de PCR, para conduzir testes generalizados, ele diz. 
Devido ao fato de que os testes de PCR criam milhares de cópias do RNA selecionado, ele consegue detectar o vírus em concentrações muito menores, chamado de limite de detecção, do que costumam conseguir os testes de antígenos. O limite de detecção do PCR “está na ordem de poucas centenas de partículas do vírus em um milímetro de transporte líquido”, diz Geoffrey Baird, titular do laboratório de medicina da Escola de Medicina da Universidade de Washington. 
Já a sensitividade de testes rápidos de antígenos teve altos e baixos. Por exemplo, uma análise feita em 2016 de 116 destes testes para detectar a bactéria que causa garganta inflamada descobriu que eles tinham uma sensibilidade em média de 86%, o que resultava em 14% de falsos negativos para pessoas com infecção. Os testes de antígenos usados para diagnosticar infecções virais como a gripe são ainda menos sensíveis, muitas vezes apontando um resultado negativo mesmo quando o vírus está na verdade presente. Sua habilidade de evitar falsos positivos corretamente é geralmente muito maior. Eles podem ultrapassar os 95%, o que significa que menos de 5% das pessoas sem infecção iriam testar positivo. 
Birx disse que os testes de antígenos poderiam ser usados como ferramentas primárias de testagem, que seriam posteriormente confirmadas por testes de PCR. Otto Yang, um pesquisador em doenças infecciosas na Universidade da Califórnia, Los Angeles, não está certo que tal objetivo possa ser atingido. “Geralmente, quando se usa este método, se busca obter mais sensibilidade e menos especificidade no teste”, ele diz. “Só faz sentido se alguém estiver tentando poupar dinheiro ou reagentes, e não é possível fazer um PCR. O único benefício potencial seria economizar recursos, mas a perda de sensitividade é um grande problema”. Essa abordagem faria sentido, acrescenta Yang, somente se o primeiro teste fosse pelo menos tão sensível quanto o PCR e também fosse mais barato.
Mas essa visão não encerra o debate sobre a validade de fazer uma testagem para antígenos. Lee Gehrke, um microbiólogo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e cofundador da E35Bio, outra companhia que desenvolve um teste de antígeno para coronavírus, recusa as comparações entre estes testes e o PCR. “O uso do teste precisa ser adequado ao contexto onde será usado”, ele diz. “Em contextos de volta ao trabalho e de volta às aulas, testes repetidos e regulares serão necessários. Se o teste for repetido, eu acredito que o teste rápido [de antígenos] irá identificar [o vírus]”.
Gehrke reconhece que, nos primeiros dias de infecção, indivíduos infectados podem possuir proteínas virais presentes em níveis abaixo do limite de detecção do teste. Ele diz que esses níveis vão aumentar conforme a infecção progredir, entretanto. “É possível que bem no fim da curva em formato de sino exista um período em que o PCR possa detectar [o vírus] mas os testes rápidos de antígenos não”, Gehrke diz. Mas se o objetivo de testar é fazer com que as pessoas voltem a trabalhar, ele acrescenta, um teste com sensibilidade “menos do que perfeita” será aceitável se também for barato. 
Yang não acredita que os testes de antígenos possam funcionar como ferramenta de diagnóstico, mesmo que os resultados que eles forneçam possam servir como um sinal de alerta muito necessário. “Se o objetivo for detectar alguém que esteja com o vírus e que possa ser mais contagioso [alguém com um grande volume do patógeno], então talvez faça sentido”, ele diz. Mas se o objetivo de um teste periódico de antígenos for detectar pessoas no início da infecção, “vai haver menos vírus, então a sensibilidade vai ser um grande problema.” 
Porém, a grande necessidade de um teste assim continuará a promover impulso para essa linha de pesquisa. “Testes rápidos vão se equivocar com pessoas que estão doentes, mas eles ainda são muito valiosos, porque leva apenas alguns minutos para testar alguém”, diz Gigi Gronvall, uma imunologista no Centro Johns Hopkins para Segurança de Saúde. “Em termos de cuidados médicos, existe certo valor em ter um teste como esse.” 
Por fim, esses debates podem ser colocados para descanso em alguns anos. “Conseguir testes generalizados é claramente algo de que precisamos para conter a epidemia. Mas tudo isso é um degrau”, diz Karla Satchell, uma microbióloga na Escola de Medicina da Universidade do Noroeste de Feinberg. “O que nós realmente precisamos é de uma vacina.” 
Jim Daley
08/05/2020

O SarsCov-2. Foto de microscopia do NIAID

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