quinta-feira, 27 de março de 2014

Descoberta da origem da cor do capim-dourado pode levar a novos testes de diagnóstico de doenças, como Aids e hepatite

Em bijuterias ou cestas artesanais, o brasileiro capim-dourado (Syngonanthus nitens), planta típica do Jalapão (Tocantins), atrai a atenção de compradores de todo o mundo encantados com seu brilho semelhante ao do ouro. A coloração que atrai consumidores também desperta o interesse de pesquisadores.

Empenhados em descobrir o que gera a cor dourada da planta, físicos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) conduziram uma série de análises sofisticadas até conseguir uma resposta. A procura não só deu certo como também abriu caminho para novas e inusitadas aplicações do vegetal.

O capim-dourado só apresenta essa coloração quando está seco. Por isso, os pesquisadores analisaram a planta seca com microscopia eletrônica em busca de pistas. O primeiro teste, que procurou pela presença de metais que pudessem conferir a tonalidade dourada, não deu em nada. Então os físicos partiram para uma análise da geometria do vegetal.

“Na natureza existem outros materiais que refletem luz dourada, como asas de borboletas, por exemplo, onde o que gera a cor são estruturas na superfície das asas, pequenas escamas que fazem com que a luz brinque e seja refletida dessa forma fantástica”, explica um dos autores do estudo, o físico Wido Schreiner.

Mas as análises não revelaram esse tipo de estrutura no capim-dourado, que mostrou ter uma superfície bem lisa – o que explica seu brilho, mas não sua cor. Os resultados começaram a fazer sentido quando os pesquisadores resolveram estudar os componentes químicos da planta. Foi quando descobriram que o capim-dourado contém flavonoides que interagem de modo especial com a luz do Sol.

Matéria-prima nacional


“Observamos que esses flavonoides absorvem o espectro luminoso do azul, do violeta e do ultravioleta”, explica Schreiner. “Quando a luz branca, que contém esses espectros, incide sobre o capim, os flavonoides absorvem essas cores e sobra o espectro avermelhado, que gera a cor dourada.”

Em bijuterias ou cestas artesanais, o brasileiro capim-dourado,
planta típica do Jalapão, no Tocantins, atrai a atenção
de compradores de todo o mundo encantados
com seu brilho semelhante ao do ouro.
(foto: Marcus Quito/ Flickr)


A resposta abriu a possibilidade de uso dos flavonoides do capim-dourado em um campo totalmente inusitado. A capacidade de absorção de luz da substância pode ser aproveitada para fabricação de testes para o diagnóstico de variadas doenças, como Aids e hepatite.

Nesses testes, proteínas do microrganismo causador da doença são inseridas em uma gota de sangue do paciente para saber se este está infectado. Se ele já teve contato com a doença, terá anticorpos específicos para ela, e estes se ligarão às proteínas, atestando que a pessoa está infectada.

Para detectar essa relação entre proteínas e anticorpos, os laboratórios adicionam às proteínas moléculas fluorescentes que se destacam ao microscópio. Hoje, as moléculas fluorescentes usadas no país são importadas de empresas multinacionais, mas poderiam ser substituídas pelos flavonoides do capim-dourado.

“Temos a chance de ter um produto nacional, natural e de fácil acesso”, diz Schreiner, que começa agora a estudar essa possibilidade de aplicação juntamente com pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Diagnósticos para a Saúde Pública.

“O capim-dourado é uma planta nacional que poderia servir de matéria-prima. Muitos cientistas se preocupam mais em estudar coisas de fora que do próprio país; com esse estudo, nós destacamos a importância de dar valor ao que é genuinamente brasileiro.”


Sofia Moutinho

Ciência Hoje/ RJ

Texto originalmente publicado na CH 312 (março de 2014).

quinta-feira, 20 de março de 2014

Cientistas sul-africanos mais próximos da vacina contra o HIV

Cidade do Cabo, 18 de março - Cientistas sul-africanos e colaboradores americanos descobriram novos anticorpos e sua potência no corpo humano contra o vírus HIV, deixando a pesquisa ainda mais próxima de uma vacina ou tratamento.

Há décadas, cientistas vêm lutando para encontrar uma vacina contra o HIV/AIDS, em grande parte devido à rapidez de evolução do vírus, que cria um número muito grande de variantes da espécie. Uma vacina eficiente deve orientar o corpo a produzir anticorpos neutralizadores, capazes de reconhecer e destruir as diferentes formas do vírus. Tais anticorpos são motivos de estudo de muitos cientistas e pesquisadores ao redor do mundo.

Os cientistas da África do Sul e seus colegas internacionais identificaram 12 anticorpos similares em um paciente sul-africano e observaram como eles evoluíram com o tempo para se tornarem efetivos e como seria possível duplicá-los em laboratório.

Os anticorpos atacam uma parte específica do vírus HIV-1, conhecido como V1V2. Esse trabalho oferece duas novas possibilidades de ataque ao HIV/AIDS: primeiramente, anticorpos clonados podem ser investigados como possível tratamento e prevenção para o vírus e, por fim, os conhecimentos adquiridos sobre a evolução dos sistemas de defesa do corpo oferecem pistas para um desenvolvimento futuro de vacinas, de acordo com Lynne Morris, chefe da seção de Virologia HIV do Instituto Nacional de Doenças Comunicáveis (NICD). Ela é co-autora do artigo que explica a pesquisa, publicado no prestigiado jornal Nature.

Os anticorpos foram isolados de uma voluntária conhecida como CAP256, e rastreados por um período de 4 anos anteriores. Pouquíssimos grupos de pesquisa tiveram acesso a amostras de sangue de um período tão longo, que foram mantidos no Centro de Pesquisas da AIDS na África (Caprisa), de acordo com a Dra. Morris.

Esses anticorpos especiais possuíam “braços longos”, que os tornavam capazes de penetrar a camada protetora do vírus HIV. Os cientistas observaram que os anticorpos da paciente já tinham essas ferramentas de combate alguns meses após a contaminação, e não foram necessárias mudanças em sua estrutura nos meses seguintes para o combate do HIV.

Pode, assim, ser possível o desenvolvimento de uma vacina que se baseia nesses anticorpos, disse a Prof. Morris. Os cientistas pretendem testar a vacina em macacos, provando se as defesas são capazes de prevenir ou tratar a infecção, de acordo com o co-autor do estudo e co-diretor do Caprisa, Salim Abdool Karim. Os cientistas esperam basear seus estudos nas descobertas de Dan Barouch, da Harvard Medical School, que mostraram uma única injeção de anticorpos humanos em macacos reduzindo o HIV a níveis indetectáveis em poucos dias.

O Prof Karim disse que a equipe espera poder combinar diversos anticorpos neutralizadores, assim como hoje em dia fazemos com drogas de tratamento. “Se existe um benefício no tratamento, imagine só o que podemos fazer. Poderíamos ter um paciente recebendo injeções a cada três meses e as doses de drogas antirretrovirais conforme necessário”, afirma.

Os testes em macacos serão realizados nos Estados Unidos, já que laboratórios na África do Sul não fornecem o suporte necessário. Somente caso os testes em animais sejam bem sucedidos, haverá o avanço para testes em humanos, de acordo com o Prof Karim.

O Ministro de Ciência e Tecnologia, Derek Hanekom, afirmou que o estudo ilustrou a importância da parceria internacional científica. O Ministro da Saúde, Aaron Motsoaledi, elogiou a dedicação e a paciência dos pesquisadores sul-africanos. “Sem a paciência – assim que os estudos progridem nos entendimento do vírus e sua natureza – não seríamos capazes de compreender esse vírus tão complexo”, disse. Ele também menciona os pacientes que contribuíram com a pesquisa do HIV: “é claro que, mesmo conseguindo enormes avanços em laboratórios, o material humano sempre será o foco principal da pesquisa”.

Sobre a Brand South Africa

Brand South Africa, anteriormente conhecida como o Conselho Internacional de Marketing da África do Sul, foi criada em agosto de 2002 para ajudar a criar uma imagem de marca positiva e atraente para a África do Sul. O nome mudou oficialmente para melhor alinhar seu mandato de construir a reputação da marca da nação da África do Sul, a fim de melhorar sua competitividade global.

Fonte: Segs

terça-feira, 18 de março de 2014

Infarto em mulheres pode ser confundido com ansiedade

As mulheres são mais propensas do que os homens a morrer de ataque cardíaco devido a um diagnóstico mal feito que atribui seu mal-estar a um ataque de ansiedade, de acordo com estudo divulgado esta semana no Canadá.
Cientistas da Universidade de McGill, em Montreal, pesquisaram a diferença de mortalidade entre homens e mulheres que sofrem ataques do coração.
Para isto, interrogaram 1.123 pacientes de 18 a 55 anos hospitalizados em 24 instituições do Canadá, mas também em um hospital dos Estados Unidos e outro da Suíça. Os pacientes, todos com síndrome coronariana aguda, responderam aos cientistas nas 24 horas posteriores à sua entrada no centro médico.
As mulheres entrevistadas tinham origem socioeconômica mais modesta do que os homens que participaram do estudo. Por fim, elas demonstraram correr mais riscos de sofrer de diabetes e hipertensão, havia mais casos de doenças cardíacas em suas famílias e tinham mais possibilidades de sofrer de depressão e ansiedade do que os homens.
Origem da dor
Os cientistas, cujos estudos são publicados na revista da Associação Médica do Canadá, constataram que, em média, os homens eram mais submetidos a eletrocardiogramas rápidos e desfibrilação do que as mulheres.
Os pesquisadores explicam esta diferença de tratamento pelo fato de que as mulheres costumam recorrer com mais frequência do que os homens ao serviço de emergência com dor torácica de origem não cardíaca.
Além disso, "a prevalência da síndrome coronariana aguda é menor entre as mulheres jovens do que entre os homens jovens", disse a principal pesquisadora do estudo, Louise Pilote. Estes resultados, explicou, sugerem que o pessoal médico têm mais probabilidades de confundir um evento cardíaco nas mulheres com sintomas de ansiedade.
 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Descoberto vírus gigante congelado há mais de 30 mil anos

Um novo tipo de vírus gigante, chamado Pithovírus, sobreviveu por mais de 30 mil anos congelado em uma camada de permafrost na Sibéria, sendo contemporâneo à extinção dos neandertais, de acordo com estudo publicado nas Atas da Academia Nacional de Ciências de Estados Unidos (PNAS).

Capaz de infectar amebas, mas inofensivo para humanos e animais, esse vírus elevou para três o número de famílias de vírus gigantes conhecidos, ressaltam os autores dessa pesquisa divulgada na segunda-feira.

Descoberto no solo permanentemente gelado do extremo norte-oriental da Sibéria (na região autônoma de Chukotka), o Pithovírus é muito diferente dos outros vírus gigantes conhecidos, como o Mimivirus (família Megaviridae), o primeiro vírus gigante descoberto em 2003, ou o Pandoravírus, caracterizado na revista "Science" em julho passado.

Os vírus gigantes (de diâmetro superior a 0,5 milionésimos de metro) são, ao contrário dos outros vírus, facilmente visíveis com um simples microscópio óptico.

Esses vírus contêm um grande número de genes em comparação com os vírus comuns (como os da gripe, ou da Aids, que contêm apenas uma dúzia). Seu tamanho e seu genoma são comparáveis ao de muitas bactérias, podendo, inclusive, excedê-las.

"A demonstração de que os vírus enterrados na terra há mais de 30 mil anos possam sobreviver e continuar sendo infecciosos sugere que o derretimento do permafrost, devido ao aquecimento global e à exploração mineradora e industrial do Ártico, pode significar um risco para a saúde pública", disse Jean-Michel Claverie, do laboratório IGS-CNRS de Marselha, França, coautor do estudo.

- Possibilidade de reaparição do vírus -

A possibilidade do ressurgimento de vírus considerados erradicados - como o da varíola, que se multiplica de maneira similar ao Pithovírus -, a partir dessa grande geladeira que é o permafrost, já não é mais um cenário de ficção científica, afirmou Claverie, ressaltando que a varíola fez estragos na Sibéria.

O laboratório IGS-CNRS faz um estudo de "metagenômica" do permafrost que permitirá avaliar o risco.
"Trata-se da busca de DNA, ou seja, as impressões genéticas de vírus (ou de bactérias) patogênicos para os seres humanos para ver se, por exemplo, há rastros de varíola nas amostras dessa camada de permafrost coletadas a 30 metros de profundidade", disse o pesquisador.

Esse processo é seguro, já que é realizado apenas nas impressões que vão ser comparadas com as de bancos de dados já existentes, explicou.

Essa descoberta destaca como o conhecimento da biodiversidade microscópica continua sendo parcial, afirmam os cientistas.

A região de Chukotka, de onde provém o novo vírus gigante, inclui grandes reservas de petróleo, gás natural, carvão, ouro e tungstênio.

O estudo reuniu pesquisadores franceses de Marselha e Grenoble e uma equipe da Academia de Ciências da Rússia.

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